28.3.09

Espera

19.3.09

As histórias de um ladrão


Essa paixão por contar histórias havia de ter um bom porquê.
Deve ser aquela barriga, aquele bigode [que fazia cócegas], aqueles olhos de quem não sabia mentir...
Pode também ter sido, é bem verdade, aqueles outros olhos arregalados que fazia seguir um caminho muito bem pensado, como quem pontuava uma história que ia ser contada [e que, de certa forma, já estava sendo].

Pois bem, não sei que atropelo foi, virou isso.

Uma vez mostrou que havia roubado uma bala, numa tentativa de confissão. Durou 3 segundos. Não é bonito.
Foram anos... passaram.
E lhe ocorreu um novo roubo.

As histórias vinham assim como quem não quer nada e desaguavam em qualquer momento oportuno.
Não começava com "Era uma vez..." porque lhe seduzia o disfarce.
Eram da comodidade de não se escolher, das loucas escolhas de amor, do estourar do plástico bolha, da mão em sacos de sementes, do melhor brinquedo: a piscina de bolas.
Eram de poesias e músicas, de tristeza e aprendizados, de sapatos suicidas, de princesas mortas, de cabelos ao vento, do barulho do mar... cenários e personagens.
Catava aqueles detalhes que iam ficando ali, no cheiro, nos hábitos, nas cores de uma fotografia, no porquê das coisas.
E jogava na cara a realidade pintada de prazeres.
Acreditava nos sonhos e os contava. Acreditava nos impulsos e os estimulava.

Abre parêntesis.
Ladrão que é ladrão rouba uma bolsa apostando que tem uma carteira ali. Ou dinheiro solto, que seja. Mas tem que está preparado pra qualquer maníaco que anda com Lucrécia na bolsa [Aquela cobra de estimação que não gosta de ficar em casa sozinha. Vai saber?! Tem doido pra tudo, diz o do bigode!]. Ou uma fralda suja do filho [para os ecologicamente corretos], ou simplesmente um álbum de família.
Fecha parêntesis.

Arriscava: Roubava sorrisos e as vezes colhia lágrimas.

11.3.09

Passeio

Era de papel. E tinha mil perspectivas. [ou seriam três?]
Parecia perdido na cidade e morria de medo dessa chuva branca que caia do céu. Que pra sua sorte, não o molhava. 
Já nem sorria. Era frio.

O dia seguinte esbanjou um azul tão bonito que até pediu óculos escuros.
Ainda assim, abaixou a cabeça e seguiu caminhando passo a passo, contando os quadrados que pisava e chutando balões imaginários.
É como se cada passo o levasse mais para perto de algo... Era bom estar perto de algo, ainda que não soubesse o que era. Devia ser qualquer coisa como um abraço, pensava.
Encontrou escadas e as subiu correndo. Logo entrou num parque. Tirou os casacos e, junto com a bolsa, atirou tudo ao pé de uma árvore sem muitas folhas.
Abriu os braços, olhou pro céu e rodou, rodou, rodou, rodou, rodou. Ficou tonto e deitou-se na grama.
Até que enfim um pouco de movimento lhe oferecia o mundo.
Fechou os olhos.
Passaram-lhe círculos de luzes de diferentes cores e tamanhos. Forçou-se a sonhar. 
Ela era a primeira coisa que lhe vinha. Entre mil sensações, perdurava o entrelaçar de suas mãos.
Abriu os olhos e as nuvens brancas já eram cinzentas. O tempo havia mudado.
Observou o céu e de onde soprava o vento vinha também um pedaço de azul alegre. Ia passar. Recolheu suas coisas quando sentiu os primeiros pingos gelados e lavou sua alma enquanto corria para abrigar-se abaixo de uma outra árvore mais robusta. Ficou a ver o verde ficar mais escuro e a esperar o pedacinho de céu que prometia vir azul em breve.

Foi assim a primeira vez que levou sua alma pra passear.