Parecia perdido na cidade e morria de medo dessa chuva branca que caia do céu. Que pra sua sorte, não o molhava.
Já nem sorria. Era frio.
O dia seguinte esbanjou um azul tão bonito que até pediu óculos escuros.
Ainda assim, abaixou a cabeça e seguiu caminhando passo a passo, contando os quadrados que pisava e chutando balões imaginários.
É como se cada passo o levasse mais para perto de algo... Era bom estar perto de algo, ainda que não soubesse o que era. Devia ser qualquer coisa como um abraço, pensava.
Encontrou escadas e as subiu correndo. Logo entrou num parque. Tirou os casacos e, junto com a bolsa, atirou tudo ao pé de uma árvore sem muitas folhas.
Abriu os braços, olhou pro céu e rodou, rodou, rodou, rodou, rodou. Ficou tonto e deitou-se na grama.
Até que enfim um pouco de movimento lhe oferecia o mundo.
Fechou os olhos.
Passaram-lhe círculos de luzes de diferentes cores e tamanhos. Forçou-se a sonhar.
Ela era a primeira coisa que lhe vinha. Entre mil sensações, perdurava o entrelaçar de suas mãos.
Abriu os olhos e as nuvens brancas já eram cinzentas. O tempo havia mudado.
Observou o céu e de onde soprava o vento vinha também um pedaço de azul alegre. Ia passar. Recolheu suas coisas quando sentiu os primeiros pingos gelados e lavou sua alma enquanto corria para abrigar-se abaixo de uma outra árvore mais robusta. Ficou a ver o verde ficar mais escuro e a esperar o pedacinho de céu que prometia vir azul em breve.
Foi assim a primeira vez que levou sua alma pra passear.
3 comentários:
Esse texto tinha o nome de inacabado. E de certa forma me apeguei a ele.
uma historieta para ser a primeira leitura do dia!
gostei...
que delícia de texto! sai para passear com ele, ainda sinto a vertigem do rodopio! a chuva molhando...nada melhor que sentir vida pulsando em nós mesmas! agraciada, ni
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