17.9.08

Pontos [e contos ] de ônibus

Fluxo.
Pessoas. Carros. Buzinas. Semáforos. Ônibus. Tempo.
Esse vai e vem repetitivo cria causos frente a nossos olhos.
Veja bem se não tenho cá comigo um pouco de razão.
***
Mais uma manhã. Atrasada como sempre. Esperando o ponto final do ônibus que mais lhe parecia o ponto final do mundo, tamanha demora. Costumeiramente, a essa altura, estava sozinha no ônibus. Nessa manhã, não. Um idoso, desses que a fazia lembrar seu avô, também desceria na próxima parada. Uma dificuldade tamanha na tentativa de coordenar seus membros trêmulos, sua bengala e o espaço exato entre os degraus da porta traseira. Desceu. Se colocou à esquerda da porta, firmou sua bengala no chão com a mão esquerda e dirigiu seu olhar para o alto com a mão direita estendida. Ela sorriu. Segurou a mão sem se apoiar. Agradeceu e retribui o bom dia. E por uns instantes, aquilo não lhe parecia mais o fim do mundo.
***
“- Eu vim de ônibus agora, sabe? Aí, você não acredita! Lá na altura da Marinha, sabe?”
Eu tive três segundos para imaginar o fim daquele relato - tempo que o interlocutor de minha personagem gastou para se localizar em seu intinerário.
Pois bem, comecei pensando que havia sido um assalto a ônibus, para manter a conversa na tendência da moda criminal atual; A sirene de uma ambulância da SAMU levou minhas hipóteses para um grave acidente, desses que seria, certamente, manchete no próximo noticiário.
[Meu raciocínio fôra interrompido. Ela voltara a falar].
Foi assim que perdi três segundos do meu dia. Mas devo confessar que me bastou os outros poucos instantes que se seguiram para fazê-lo voltar a valer a pena:
“- Menina, tinha um ipê amarelo muito lindo... todo amarelo!”
***

Um comentário:

maria ruela disse...

um domingo desses a cidade me presenteou com ipes brancos por toda parte que só duraram aquele breve domingo...

ou eu só os vi naquele breve domingo... enquanto ia pra o cinema... enquanto voltava para o cinema... já quase me esqueci da história...

Mas eram muitos ipês brancos... MUITOS! não acredito que esquecerei